Mega Drive Edição Limitada – O que esperar do relançamento deste Clássico da era 16-Bits
Após quatro meses de expectativas, uma semana de marketing e especulações, enfim ontem, dia 31 de outubro de 2016, foi o anúncio do Mega Lançamento Tectoy – o Mega Drive Edição Limitada! A proposta da Tectoy foi trazer O Clássico em comemoração aos 30 anos da empresa, que será ano que vem.
Design – Ponto de vista estético
“O clássico está de volta”. O console está com o desenho original do primeiro modelo lançado pela Tectoy. Botão de pause cinza, 16-Bits em fonte menor que do console japonês, High Definition Graphics escrito no aro em torno da entrada de cartucho, ou seja, tudo a princípio está como o console original. Apenas a parte traseira está diferente devido as conexões de entrada, saída e alimentação. A entrada para cartucho aparenta ter as travas mecânicas utilizadas como trava de região.
No geral a Tectoy acertou em cheio. Trazer a estética do primeiro console não só atende aos fãs como agrada aqueles que não tiveram a oportunidade de ter o console na época. O ponto negativo está no cabo de alimentação conectado direto no console preso por um strain relief. Isso indica que a fonte de alimentação será interna, porém, poderiam trocar esse cabo por uma tomada bipolar do tipo 8, modelo AC-004, que é o mesmo utilizado em consoles como PS3, ou fontes de alimentação de notebooks, ou seja, comum de mercado.
Features – Entregas do produto
Como mencionado, a traseira está diferente, além o cabo de alimentação que já foi mencionado, as saídas de A/V serão entregues em conectores fêmea do tipo RCA, sendo um para vídeo do tipo composto e outros dois para áudio do tipo stereo, ou seja, conectores comuns. Aqui está talvez o grande ruído nesse anúncio. Muitas pessoas criticaram por não ter saída em HDMI, e confesso que esse requisito era algo que esperava, mas não seria algo essencial.
O ponto é que entregar vídeo composto, por mais que esse tipo de vídeo possa remeter a proposta do Clássico, não foi visto muito bem. É sabido que os televisores novos não convertem em uma boa qualidade o sinal analógico. Sendo vídeo composto (que é a pior qualidade de vídeo que se tem atualmente) ficará ruim. A questão da “qualidade percebida” é subjetiva, mas o fato é que o vídeo composto deveria ser uma alternativa, e não a única opção. Os primeiros modelos de Mega Drive possuíam uma saída nativa de vídeo em RGB (mesma tecnologia dos cabos VGA’s), além do composto. Não entrando em explicações técnicas, mas o RGB é a melhor qualidade de vídeo analógica que se tem. E isso poderia ser entregue de forma nativa também, possibilitando o consumidor ter as melhores experiências em televisores novos.
Com relação a ter HDMI, até entendo que isso acarretaria um novo circuito, podendo ultrapassar o target cost do produto atual. Mas fica a pergunta, será que o consumidor não pagaria mais para ter essa saída HDMI? Não é minha ideia aqui dizer o quanto aumentaria, mas se o console está vindo com a proposta de ter o hardware original, seria tratar a saída RGB nativa em uma conversão A/D e assim entregar HDMI.
Mas e se tratar a saída de vídeo composto, não daria uma qualidade melhor também? Nesse caso a resposta é não. O vídeo composto é chamado assim pois todas informações de vídeo necessárias para recriar a imagem colorida, bem como pulsos de sincronização de linha e de quadro, são combinadas em um único cabo. Ao convertemos um sinal desse tipo, que por si só não é bom, há necessariamente perda de informação, fora que existem vários sistemas para codificação como NTSC, PAL e SECAM, sendo assim dificilmente terá um chip exclusivo para converter em boa qualidade a codificação que nesse caso é PAL-M (exclusivo apenas do Brasil, Laos e partes da Tailândia, se não me engano).
Uma feature acertada é da entrada para cartão SD. Acredito ser impossível a Tectoy conseguir licença de todos os jogos lançados para Mega Drive. Algumas empresas poderão não querer ceder a licença, outras empresas nem existem mais. Logo essa possibilidade trouxe uma ótima alternativa para os consumidores. De qualquer forma, caso a Tectoy venha a conseguir mais licenças para seus jogos, isso possibilita ela deixar a disposição dos consumidores os jogos, e assim transferir para o SD.
E como não falar da entrada para cartucho. Claro, se a estética é a original necessariamente deveria vir com a entrada para cartucho. Esta possibilidade havia sido discutida muito antes do anúncio e estava bem dividia, muitos acreditavam que não iria vir, outros que deveria vir sim. Então está aí, veio! E muito bem-vinda por sinal.
O controle (ou joystick) será o clássico de três botões em seu formato original, porém o bundle acompanhará apenas um, mas já está disponível na pré-venda controle extra. Essa venda de controle a parte também é ótima, pois acredito que não somente eu, mas muita gente já está comprando ele como controle reserva. Fica a dica aí para a Tectoy investir em produção de periféricos como cabos, controles de seis botões, fontes de alimentação, etc.
Uma questão duvidosa é a incompatibilidade com acessórios do Mega Drive como: 32X, Meganet, Activator, Sega-CD entre outros. Por que duvidosa? Bem, no decorrer da vida do Mega Drive foram lançados vários modelos, principalmente por redução de custos, fazendo sistemas SoaC (System on a Chip – Sistema em um chip). Tais sistemas, como o Genesis III lançado pela Majesto em 1998 e o Mega Drive III branco lançado pela Tectoy em 2007, eram fabricados nessa tecnologia e sabe-se que eles não eram compatíveis com os periféricos nem com cartuchos como Virtual Racing, por exemplo. Nesse novo anúncio foi antecipado que será da mesma forma: não funcionará esses acessórios e a ainda os processadores de 16 Bits e 8 Bits (68000 e Z80 respectivamente) serão SoaC. O grande problema é que esses consoles lançados mais recentes com com SoaC tinham uma qualidade péssima de entrega de áudio e vídeo, e aqui fica a dúvida: Será a mesma coisa?
Para concluir essa primeira parte, digo que a Tectoy acertou sim no geral nesse anúncio: Console puramente clássico com uma característica excelente da entrada do cartão SD. Algumas pessoas disseram que pelo que está entregando o preço está alto (preço no site de pré-venda: R$399,00). Até concordo sim, porém não vejo isso como um impeditivo de não adquirir o console. Acredito que tem muito mais coisas que possam tornar fora de cogitação a compra, e isso tem a ver com funcionalidade.
Bom, aqui vamos discutir um pouco mais tecnicamente o que foi apresentado de características. Mas antes, os jogos inclusos:
Jogos Inclusos
A lista possui vinte e dois jogos que deverão vir incluso no bundle em um cartão SD. No meu ponto de vista, isso é apenas um bônus para quem for comprar o Mega Drive Edição Limitada. A lista de jogos é:
- ALEX KIDD
- ALIEN STORM
- ALTERED BEAST
- ARROW FLASH
- BONANZA BROTHERS
- COLUMNS
- DECAP ATTACK
- E-SWAT
- FATAL LABYRINTH
- FLICKY
- GAIN GROUND
- GOLDEN AXE
- GOLDEN AXE 3
- JEWEL MASTER
- KID CHAMELEON
- LAST BATTLE
- OUT RUNNERS
- SEGA SOCCER
- SHADOW DANCER
- SHINOBI 3
- SONIC 3
- TURBO OUTRUN
Características técnicas
Processadores (integrados em um single chip):
CPU: 16bits
CPU: 8bitsMemória integrada
RAM sistema: 64K bytes
RAM som: 8K bytes
Vídeo RAM: 64K bytes
Resolução de vídeo (SEGA Original) 256 x 224
Pallet de 512 cores
Simultâneas: 64 cores (15 por Sprite de 8X8)Efeitos de Áudio:
6 canais de modulação AM-FM
2 canais de PSG (cada canal com 3 geradores de onda quadrada e mais um de ruído branco)
1 canal analógico de 8 bits
Se analisarmos superficialmente essas características podemos ver que basicamente são as mesmas do Mega Drive original. Duas CPU’s (apesar de integradas – SoaC), sendo uma de 16 Bits e outra de 8 Bits (possivelmente equivalentes ao 68000 da Motorola e Z80 da Zilog respectivamente), características de áudio também equivalentes ao Yamaha YM2612 (processador estéreo de 6 canais + 1 canal interior linear de 8 bits) e o Texa Instruments SN76489 (gerador de som programável com 3 geradores de onda quadrada e um gerador de ruído branco), ou seja, claramente vemos as mesmas características do console original.
Temos que entender que, provavelmente as características sonoras do Mega Drive Edição Limitada terá diferenças técnicas com relação ao original, isso porque ele não utilizará dos mesmos componentes, mas sim de componentes que terão as mesmas características. Essa diferença dá-se devido a construção física de cada circuito integrado. Uma dopagem de cristal diferente, um consumo um pouco diferente, faz com que o circuito todo interno se comporte diferente.
Essa diferença sonora, talvez seja tão pequena que seja imperceptível ou mesmo ser grosseira a ponto de dar certos delays. O fato é que isso só saberemos quando ligarmos o Mega Drive. Eu acredito que realmente a Tectoy esteja trabalhando a fim de entregar a maior fidelidade sonora de acordo com o original. A princípio deu a entender que a parte de áudio não será SoaC, como era do modelo HAA-2502 em diante. Isso é um fator positivo, pois a comunicação via barramento de dados ficará exclusiva, necessário apenas a sincronização com os clocks.
Com relação ao processador de 16 Bits e co-processador de 8 Bits, ficará a dúvida apenas com relação ao clock deles, ao barramento de comunicação e principalmente como fará o processamento das informações provindas de cartuchos e de cartão SD. Pois bem, cada tipo tem sua pinagem características e provavelmente alocação dentro da memória interna do processador em endereços diferentes. Isso deve ser muito bem mapeado para que possamos jogar de forma tranquila e sem travamentos.
Agora sim vem minha preocupação – o VDP. VDP é um processador de vídeo sendo o principal componente para geração de sinal dele. Responsável pela produção de um sinal de vídeo de televisores dentro de um sistema de computação ou de videogames, alguns até são responsáveis pela geração de áudio, funcionando como um PSG (Gerador de Som Programável). Originalmente o VDP do Mega Drive era o 315-5313 e que também tem sua parte interna de PSG.
Pois bem, o termo Blast Processing era basicamente uma referência ao poderoso controlador VDP que poderia lidar com operações do DMA (Acesso Direto à Memória) a velocidades altíssimas. O Mega Drive poderia escrever para o VRAM durante a exibição do VBlank (novamente sem entrar em termos técnicos, em resumo VBlank é o tempo entre o final da última linha de um quadro e o início da primeira linha do próximo quadro) e a largura de banda bem rápida comparada aos concorrentes da época.
Assim, por mais que as características de vídeo a princípio estejam equivalentes, o modo de funcionar o processamento dos vídeos pode acarretar desde problemas de scroll, sombras e até delays e má qualidade de áudio. Por isso aqui é meu grande ponto de atenção. Como será o VDP?
Para concluir, no geral a Tectoy acertou em cheio o pedido dos fãs e resgatou a nostalgia. Deu a possibilidade de novos consumidores ter a incrível experiência de se ter o melhor console da geração 16 bits. Claro que ela agora tem muito dever de casa para fazer. A execução deve ser impecável! Uma grande dúvida minha é: o que será que a Sega está achando disso tudo. Fica aqui meu desafio: se a Tectoy trouxer o hardware original, porque não deixar compatível com os periféricos e jogos em cartucho com chips e sistemas exclusivos?
Deixe sua opinião aqui sobre o Mega Drive Edição Limitada e vamos resgatar um pouco dessa nostalgia. Grande abraço!
Fonte original: Comunidade Mega Drive
Autor original: Carlos Guilherme - Integrante da Comunidade Mega Drive