Author Victor Hugo Da Pieve

Especialista em Design de Interação (PUC-MG) e graduado em Design de Jogos e Entretenimento Digital (UNIVALI) é apaixonado pela experiência que os Jogos Digitais podem proporcionar. Atuou com Pesquisa e Desenvolvimento de Jogos focados em crianças com transtornos (TDAH e Autismo). Atualmente é Game Designer na equipe acelerada pela Playbor, uma aceleradora de jogos digitais brasileira, a primeira da América Latina.


Transformando o ambiente: Minorias marcam presença na Campus Party 2017


No início desse mês, entre os dias 31 a 5, aconteceu a 10ª edição da Campus Party Brasil. Para os que não conhecem, a Campus é a maior experiência tecnológica do mundo que une jovens geeks em torno de um festival de inovação, criatividade, ciências, empreendedorismo e universo digital. Nesta edição foram mais de 700 horas de conteúdo, 09 palcos temáticos, uma internet cabeada de 40GB de velocidade e 6500 mil barracas na área de camping. (fonte) Dá pra imaginar o tamanho disso?

Neste ano, pela segunda vez como voluntário, primeira em São Paulo, pude perceber para quais direções o maior evento de tecnologia aponta. E elas são interessantes, animadoras. Começarei pela área freeplay, área dos consoles e computadores à disposição dos campuseiros e com campeonatos todos os dias. Para surpresa e constatação pessoal, havia apenas DOIS CONSOLES, em mais de 10 disponíveis, com jogos de futebol (adeus clube do bolinha!). Logo, a área dos “homens” estava aberta à qualquer um que quisesse jogar jogos de luta, plataforma e aventura. Durante os seis dias percebi várias garotas jogando e fiquei bem feliz, mesmo que ainda escutasse aqueles comentários idiotas do tipo: “você perdeu para uma menina. Que é isso!?”. (NEXT!) Dentro dessa área ainda havia campeonatos de LoL, Dota, CS, Just Dance e outros, e para aumentar minha felicidade, o segundo lugar de LoL teve uma menina na equipe! Sambou na cara dos “machões” no maior campeonato de moba do evento.

Ainda não parando por aí, pela primeira vez tivemos, oficialmente, um grupo LGBT fazendo parte desse mega evento: o Campus Pride. Segundo um dos responsáveis, Marcio Brito, a ideia é promover o que a Estela Camargo e o Renato Massaro (idealizadores do grupo) desejaram: formar um grupo com interesses em comum, no qual todos sejam ou tenham afinidades com o tema LGBT. (fonte) O grupo está no facebook, confira aqui. Completando esse espaço, tivemos diversas palestras (algumas sobre representatividade) e a presença de Lorelay Fox (Canal Para Tudo), Débora Baldin (Canal das Bee), Maicon Santini (Canal Maicon Santini) e Joely Nunes (Canal Afrontay).

As mulheres que desde o primeiro ano são minorias também marcaram presença. De acordo com a organização da Campus Party, cerca de 40% do total de 750 palestrantes eram mulheres – há alguns anos, o número chegava a apenas 5% do total. (fonte) Boa notícia não é mesmo? Espero que continue assim.

Infelizmente nem tudo são flores e o machismo é claro e reforçado tanto nos comentários como na postura dos campuseiros. No mesmo caminho, algumas empresas ainda estão longe de promover dignamente um evento de tecnologia para um público misto. Exemplo disso foi a marca Gillete, que presenteou os participantes com welcome packs. Nesses kits havia alguns itens e um barbeador masculino, item que causou desconforto às mulheres presentes. Tal reação repercutiu fazendo com que, em nota enviada ao Estado, a Gilette esclarecesse por que não foram todos os participantes da Campus Party que receberam o produto Mach3 no kit de boas vindas dos campuseiros. “Reconhecemos, no entanto, que a mecânica do sorteio foi equivocada e a participação deveria ser aberta a todos os participantes, por isso estamos modificando a mesma. Nos desculpamos com aqueles que se sentiram prejudicados”, afirmou a marca.” (fonte)

De qualquer modo, a presença de mulheres e minorias em eventos de tecnologia é crescente. Assim, torna-se cada vez mais necessário discutir esse cenário para termos ambientes mais humanos e justos. Quanto mais pontos de vista no mesmo ambiente, mais oportunidade de crescermos, tanto profissionalmente como pessoalmente.

Ps1: não morri.

Ps2: surpresas em breve.

Ps3: acreditem em mim!

Ps4: #paz.


Virei Game Designer: Conseguindo Assets 2D


Voltamos! Quando começamos projetos nem sempre temos toda equipe formada, mas acreditamos que até a hora da execução ela se completará. Se depois dessa sequência de artigos para conceituar e documentar as ideias (veja aqui) sua equipe ainda não está completa, alguma atitude deve ser tomada. Para solucionar essas necessidades recorremos aos famosos assets. Assets (de maneira simplificada) são recursos utilizados em nossos jogos, tanto na parte gráfica quanto sonora. Muitos deles conseguimos na internet, alguns gratuitos, outros pagos. Para facilitar a sua vida (e a minha) fiz uma lista de sites que encontramos assets de qualidades. Hoje focaremos nos 2D. Here we go!!!

 

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Esse banco é incrível e é um dos mais conhecidos. Possui assets 2D, 3D, Audio e UI (imagens para interface). São livres para uso pessoal e comercial.

Game Art 2D
Banco com personagens, tileset, interface e diversos.

Unlucky Studio
Muito legal, trabalhos de qualidade, porém possui menos material que os outros.

Graphic Buffet
É um dos mais antigos que conheço (não é mais atualizado), mas possui material de qualidade e muitos estão em promoção. Possui sprites de vários personagens interessantes, backgrounds, interface, obstáculos, etc.

Open Game Art
É semelhante a um fórum, logo possui muita informação e acho meio confuso. Para aqueles que gostam de garimpar, é uma oportunidade.

 

Caso tenha alguma sugestão que não esteja na lista, colabore. O objetivo é compartilharmos conhecimento, afinal não somos concorrentes. Um mesmo jogador pode apreciar diversos jogos em sua vida!

 

Até o próximo. :]


Virei Game Designer: Desafios do trabalho em equipe


Após finalizarmos o SGGD (veja aqui), é hora de começarmos os trabalhos. Quanto maior a motivação da equipe, mais rápido o projeto desenvolve. No entanto, alguns desafios são eminentes. Citarei os que me ocorreram com maior frequência e espero contribuições nessa lista.

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  • Falta de tempo de alguns participantes.

Com certeza é a principal “desculpa” que você ouvirá como Game Designer (ou em qualquer trabalho em equipe). Muitas pessoas têm o hábito de acumular tarefas e não conseguem se organizar de maneira eficiente. Logo, aquilo que não te dá um retorno financeiro imediato (o que ocorre com a maioria dos estúdios de pequeno/médio porte) fica para depois. E o depois atrasa o trabalho de todo o grupo. O modelador não modelará um personagem sem um concept, o ilustrador não criará um personagem sem uma história e referências; e assim sucessivamente. Conclusão, as semanas passam e o projeto caminha lentamente.  No fim das contas você está com uma equipe qualificada, mas desmotivada.

                Solução: Crie jogos curtos, estilo Game Jam (não sabe o que é, veja aqui). Planeje lançar protótipos a cada dois meses (ou menos, se possível). Dessa maneira sua equipe terá um feedback do público e saberá quais projetos devem investir e quais devem ser deixados de lado. A ideia em nossa cabeça parece a melhor do mundo, mas na prática nem sempre é assim. Explore ideias variadas, uma hora a gente acerta!

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  • Projetos curtos, mas muito complexos.

Seu SGGD ficou pequeno, o level é simples, mas sua mecânica ou estilo de arte diferente requerem muita pesquisa e trabalho. Quando começamos a escrever nosso short document vários pontos que não imaginamos aparecem e percebemos quanto trabalho existe para finalizar aquela simples ideia. Na hora de executar surgem novos desafios e a “super” ideia ganha uma complexidade muito maior do que a imaginada inicialmente.

Solução: Deixe para depois ou simplifique ao máximo que conseguir. Aquilo que der muito trabalho poderá ser uma extensão (caso o projeto tenha uma boa aceitação). Não gaste energia sem saber se aquilo dará certo.

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  • Discussões que não levam a lugar algum.

Esse ponto é uma questão mais específica a quem está direcionando a reunião. Normalmente estruturo minhas reuniões com tópicos que são dignos de atenção e trago para toda a equipe. Alguns assuntos mais polêmicos causam uma maior discussão e sempre existem aqueles que se empolgam e falam mais que a maioria. O que em teoria resolveria em 10 minutos, gastasse 30 e nada é definido.

                Solução: Fique de olho no tempo. Percebeu que está estendendo, aproveite a deixa de alguém e retome o assunto. As prioridades devem ser debatidas, mas soluções devem ser apontadas. Foque em obter soluções e não em levantar novas dúvidas.

E vocês, quais desafios já enfrentaram trabalhando em equipe e como superaram?

Queria agradecer a todos que acompanham meus textos, dizer que estou com alguns projetos aqui em Minas e em breve compartilharei com vocês. Um Feliz Natal e um excelente Ano Novo. Ano que vem voltamos com tudo!!! Abraços :]


Virei Game Designer: O Short Game Design Document


No último texto (veja aqui) pontuei cinco perguntas que devem ser respondidas antes de começarmos a detalhar nosso projeto. Com essas informações em mãos, normalmente caminhos para a elaboração de um documento mais completo sobre o jogo. Se você é da área, provavelmente conhece o famoso Game Design Document. Para quem não está familiarizado, o GDD é uma ferramenta textual produzida por um game designer (se não sabe o que um game designer faz, veja aqui) que descreve todas as informações básicas de premissa, conceitos, passando por personagens e cenários, informações mais detalhadas como projeto de levels e até sons. Muitas vezes, esse documento é chamado de “bíblia” do jogo, sendo realmente usado como uma Bíblia, uma referência para todos os envolvidos no desenvolvimento do projeto, mantendo todos ligados aos mesmos objetivos¹.

  • Mas uma Bíblia não é um livro imenso, com uma infinidade de capítulos e páginas? od_design_doc

Exato. Nessa questão está a resposta para não fazermos um GDD logo de cara. Pela complexidade e quantidade de informações necessárias para termos um documento desse porte, começar seu projeto por ele, na prática, é algo que requer tempo e dedicação. Tempo nos dias atuais é algo que não temos, por isso existem outras maneiras de definirmos pontos chaves para toda a equipe desenvolver seu trabalho.

  • Qual?

Dos modelos que vi, o que mais me adaptei foi o Short Game Designer Document. Conheci a proposta em um SBGames e utilizo em meus projetos. A ideia é:¹

  1. Descrever de forma sintética o enredo do jogo;
  2. Descrever todo o jogo, do início ao fim, num texto corrido;
  3. Marcar no texto, com cores, negrito, etc., o conteúdo de arte/interface/músicas e mecânicas;
  4. Criar listas contendo os elementos de arte, interface, música e programação;
  5. Caso seja necessário, descrever na forma de desenhos o level design do jogo (gráfico do fluxo), que pode variar seu tamanho dependendo do design do jogo;
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Exemplo de utilização no jogo Rockergirl Bikeway.¹

  • Esse modelo serve em para todos os projetos?

Não. Um documento de uma página jamais descreverá a complexidade de informações necessárias para elaboração de um jogo. No exemplo anterior percebam que não existe um detalhamento de como são os personagens esteticamente, como será o level design das fases e qual a identidade visual do jogo. Dependendo da sua equipe é possível dar uma liberdade para os demais executarem essas funções e terem maior liberdade criativa nesse processo. Quando levantei as cinco questões anteriores e comentei a utilização de fotos para exemplificar as propostas, foi uma das maneiras que encontrei para facilitar o trabalho dos artistas e mantê-los na minha linha de raciocínio.

Fazer um jogo em que cada um tem uma visão diferente do todo é um erro grave, portanto tente alinhar as ideias e delimitar precisamente os pontos chaves do projeto.

Se tiverem alguma dúvida, perguntem. Gostaram dessa ideia? Utilizam? Conhecem alguma outra? Vamos discutir.

¹Todas as informações que citei foram retiradas do artigo: Short game design document (SGDD): Documento de game design aplicado a jogos de pequeno porte e advergames. Um estudo de caso do advergame Rockergirl Bikeway (confira aqui).


Virei Game Designer: Conceituando Itens Fundamentais


Definidos os métodos para organizar seu trabalho (se não conferiu minhas sugestões, veja aqui), é a hora de trabalharmos na etapa que particularmente mais gosto: a conceituação. O termo “conceito” tem origem a partir do latim “conceptus” (do verbo concipere) que significa “coisa concebida” ou “formada na mente” (Fonte). Em outras palavras é hora de colocar a cabeça para funcionar e imaginar que você teve a ideia do século. Aqui ocorre a principal dificuldade: quando precisamos de uma ideia interessante e aparentemente viável, ela nunca aparece. Minha solução para isso é que na hora que passar algo totalmente sem sentido em sua cabeça, anote. Não importa se não exista tecnologia, se soa como bobo ou se talvez alguém já fez, anote! Tenho várias ideias em um docs e quando começo um novo projeto sempre vou lá e leio tudo que escrevi. Alguma hora aquela “bobagem” fundida com outra, toma forma e criamos produtos interessantes e diferentes.

Com uma ideia em mente vamos as 5 perguntas básicas:

Quem?

Quem viverá sua aventura? Pense em um detalhamento rápido de como é seu/sua personagem/personagens. Não foque em secundários como o pai da garota que deu um item mágico ou o melhor amigo que sempre sabe a resposta para o problema. Faça uma descrição breve do comportamento físico e psicológico. Sugiro uma ficha de personagem (estilo RPG), mas faça as modificações de acordo com o que pretende: alguns itens não são necessários.ficha_lantro__espirito__shorkan

Quando?

Descreva a época em que seu jogo acontecerá. Quais são as principais características desse cenário? Clima? Flora? Fauna? Comportamento das pessoas? Algum fato histórico ocorreu na região/época? Sugestão: uma imagem vale mais do que mil palavras, use!020694218-fmm00

O quê?

O que será esse jogo? Um puzzle? Plataforma? Corrida? Pense pequeno, não tente unir vários sendo que não terá conhecimento técnico para construí-lo. Quanto mais rápido desenvolver e testar, mais feedback’s terá e melhor será o resultado final. img_1347

Como?

Como ocorrerá o jogo? Em fases? Mundos? Construa pensando num mvp (entenda o que é um aqui). Se sua ideia consiste em várias fases, tente reduzir para um mínimo em que conte a história de maneira clara, mas sempre objetiva. A melhor maneira de validar sua ideia é testando e retestando.

30259_250x150Por quê?

Qual o motivo levou o(s) personagem(ns) a superar o desafio proposto por você? A namorada foi sequestrada? Salvar o mundo? Derrotar um monstro? Até motivos banais são válidos dependendo da história.

 

Com essas respostas é possível criarmos o primeiro documento contendo informações do nosso projeto: o short game design document. No próximo artigo discutiremos o que é isso e porque ainda não criaremos o famoso game design document.  

Para finalizar, lembrem-se: “se você quer uma nova ideia, abra um livro antigo.”

 


Virei Game Designer: O Desafio Da Organização


Voltando a sequência de artigos sobre minha experiência como Game Designer (confira o último aqui) hoje trago um item que impacta em todos os demais processos durante um projeto. A função do GD é evitar que isso aconteça e para isso é necessário organização. Organização nada mais é que forma como se dispõe um sistema para atingir os resultados pretendidos (Fonte). Devemos ter em mente que essa forma deve ir além da sua compreensão. Não adianta organizar um trabalho sendo que amanhã se você não estiver; todos ficarão perdidos. Trabalhamos em equipe e TODOS devem ser capazes de localizar informações sobre o projeto, tarefas a serem realizados, prazos, etcs.

Realizando uma procura rápida é possível encontrar diversos softwares/serviços que facilitam esse processo, no entanto, trarei os que me adaptei com maior facilidade.

Google Drive

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Google Drive é um serviço online que permite o armazenamento de arquivos na nuvem do Google. Com ele, é possível fazer o upload e acessar seus arquivos, incluindo vídeos, livros, fotos, arquivos do Google Docs e PDFs. (Fonte)

Antes mesmo de iniciar um projeto devemos ter um local seguro para armazenar o que produzimos. Qualquer informação é útil, por mais que naquele momento ou nos próximos dias não pareça. Recentemente precisei de definições de uma reunião de dois meses atrás e encontrei tudo registrado na ATA.  A ata é gerada em toda reunião (online ou não) e registra as ideias de cada um, principais pontos e discussões.

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O Discord é um servidor para chat por voz e texto no qual você pode reunir os seus amigos e conversar durante uma jogatina. (Fonte)

Assemelha-se a um Team Speak ou Skype, mas é possível criar chats para diferentes conteúdos deixando as conversas mais organizadas. É leve e estável, conheci recentemente e uso apenas para trabalho.

Trello

cxo-items-trello2O Trello é um sistema de quadro virtual para gerenciamento de tarefas que segue o método “Kanban”, muito usado no desenvolvimento com Scrum. Ele permita a criação de diversos quadros, nos quais podemos criar quantas colunas quisermos. Dentro de cada coluna é possível adicionar um ou mais “cards” (que são as tarefas propriamente ditas), contendo o conteúdo que o usuário desejar. (Fonte)

Para quem gosta de praticidade o Trello é excelente. Muito fácil de usar, personalizável, cria checklists, avisa prazos por e-mail, entre outras funções. Utilizo desde a universidade e nunca me deixou na mão.

Para gerenciamento de nosso projeto utilizamos uma metodologia específica, mas deixarei para um próximo momento pois requer maiores explicações. Quanto ao GDD (Game Design Document) existem várias versões, inclusive algumas bem interessante que discutirei posteriormente. Mas e vocês, como organizam seus projetos de jogos? Gostam de algum software em específico? Vamos compartilhar.

Cya! :]


Jogos Acessíveis: O Desafio de não olhar para o próprio umbigo


“Eu não conseguia ir adiante sem a ajuda de uma pessoa não deficiente”. A frase anterior foi dita por Josh Straub em uma conversa (em inglês, veja aqui) com Emilia Schatz e Alex Neonakis, game designers da Naughty Dog. Josh (currículo) é um consultor em acessibilidade, já passou pela Ubisoft e atualmente é editor chefe na D.A.G.E.R.

Essas palavras traduzem o que acredito ser a maior frustração de um ser humano, deficiente ou não, dentro do universo dos games. Quando digo não deficientes, lembrem-se que estamos sujeitos a condições inesperadas e um braço quebrado pode atrapalhar toda sua experiência enquanto jogador. Pensando assim, algum de vocês já desenvolveu um game imaginando como jogá-lo caso não pudesse usar a mão direita?

Desenvolver jogos baseando em públicos estereotipados e em perfeitas condições físicas ainda é uma das falhas da maioria dos produtos que estão no mercado. No entanto, para discutir essa questão, primeiro é necessário compreender o que é acessibilidade.

  • O que é acessibilidade (no mundo digital)? cfb2cf56b5aa7d9e1a7b677c4b10244f

Segundo DIAS¹ (2003), a acessibilidade digital é a capacidade de um produto ser flexível o suficiente para atender às necessidades e preferências do maior número possível de pessoas, além de ser compatível com tecnologias assistivas usadas por pessoas com necessidades especiais.

Ser flexível e atender às necessidades/preferências de um maior número de possível pessoas soa como um grande desafio, mas pequenas alterações no início do projeto podem trazer resultados significativos. Um exemplo claro (se não viu a conversa acima, veja) é sobre o uso de cores. Cerca de 5% da população mundial possui daltonismo (Fonte) e a dificuldade em diferenciar as cores, por exemplo: vermelho e verde, afeta toda a jogabilidade durante uma partida. Seria difícil utilizar o azul no lugar do vermelho ou possibilitar a troca de cores para não prejudicar os 365 milhões (Fonte) de possíveis jogadores? Acredito que não.

  • Mas porque os desenvolvedores permanecem utilizando públicos-alvo em perfeitas condições físicas? Seria falta de informação? Tempo extra de trabalho? Má vontade?

Depois de conversas em redes sociais e com colegas de profissão, trago a resposta. O autor não foi identificado por questões óbvias.

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Só digo uma coisa.

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Essa desculpa não pode existir! Concordo que implementar alguns recursos possa dar trabalho e que não conseguiremos criar um jogo acessível a todas as diferenças do mundo. Agora existe uma série de pequenas alterações que se definidas na elaboração do projeto, amenizam problemas para uma parcela de jogadores. Com criatividade e um pouco mais de empatia, criaremos jogos melhores e atrairemos aqueles que são impedidos de ter uma autonomia no mundo dos games por ignorância/preguiça dos desenvolvedores. 

O que pensam sobre jogos acessíveis? Muito trabalho? Preguiça dos desenvolvedores? Vamos discutir.

Nos vemos no próximo post!

Referência:

DIAS, Cláudia. Usabilidade na Web – criando portais mais acessíveis. RJ: Alta Books, 2003.


Fazer ou não: Uma solução para Graduação em Jogos Digitais


Primeiramente agradeço a todos pelos feedbacks que recebi em meus artigos. Expressar pela primeira vez como vejo os desafios do mercado nacional e perceber que mais pessoas pensam da mesma forma é reconfortante. Hoje responderei tentarei responder a pergunta abordada em meu primeiro post: qual o melhor caminho no cenário atual brasileiro se não acredito que um diploma em jogos digitais seja a melhor opção?

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A resposta que tenho é questionável, mas é mais simples do que parece: faça um curso conhecido, sólido. Curse sistema de informações, cinema de animação, administração. Já ouviu aquela famosa frase: faculdade é você quem faz? É a verdade nua e crua; mesmo possuindo bons professores e uma boa estrutura, sem interesse ninguém chega a lugar nenhum.

Se você tem vontade de fazer animações para jogos, mas na graduação em cinema de animação só anima caixas: crie um novo contexto, explore o diferente. Porque sua caixa não pode ter asas em um cenário apocalíptico? E se eu fizer administração e quiser ser game designer? O que tem haver? Em qualquer projeto lidamos com pessoas, trabalhamos em equipe; e se seu foco fosse recursos humanos aplicados a estúdios de jogos? Conhece alguém que faça isso? Não? Nem eu! Porque não ser o primeiro? Porque não criar/recriar métodos para profissionais que fazem parte de uma nova realidade e são forçados a utilizar metodologias antigas de trabalho?

É fato que a graduação em outra área te exigirá criatividade e se não se considera um, deixo dicas que podem te ajudar. Através da criatividade cabe a você transportar e aplicar o conhecimento aprendido ao mundo dos games, e por mais que pareça, isso não é um bicho de sete cabeças. É uma questão de percepção necessária a qualquer a profissional que deseja sair da mesmice e criar produtos com diferencias significativos a seu público.

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O segundo caminho (e não menos importante) é o famoso networking. Network segundo Marcelo Cuellar é uma rede de contatos que pode lhe proporcionar valor, que pode ir desde a troca de valiosas informações até a ajuda no caso de uma recolocação profissional (fonte). Logo faça contatos, pertença ao meio. E não tem aquela desculpa, não conheço ninguém da área. Não conhece, tem vergonha? Os grupos em redes sociais estão aí para isso! Aproximar pessoas, colocá-las em contato. Já ouviu aquele ditado: quem não é visto não é lembrado? É a realidade! Sem contato com o meio, os projetos passam, as oportunidades também. Não importa se começou ontem ou tem anos de experiência, afastar-se das pessoas, da convivência com elas, não te traz benefícios no mundo corporativo. (é claro que nesse ambiente temos exceções, veja alguns perfis aqui).

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Estamos em uma época em que a tecnologia e seus produtos são capazes de criar novas relações sociais a todo o momento. Quando percebemos, o que não existia há dois anos já é parte do nosso dia a dia e até o meio acadêmico assimilá-lo leva tempo. O problema é que hoje o tempo é cada vez menor, por isso porque não buscamos estar sempre à frente? Ou pelo menos próximo? Seja criativo, trilhe seu próprio caminho, modelos existem, mas nem sempre devemos seguí-los. Descubra o seu!

Ps1: Completando dois meses com esse artigo. Thx again ;]
Ps2: Enquanto escrevia o texto de hoje fiz um post sobre acessibilidade em jogos e me deparei com o famoso lema da maioria dos desenvolvedores: “se dá mais trabalho eu prefiro deixar como está!”
Ps3: Estou muito irritado com pessoas desse tipo que só olham para o próprio umbigo!
Ps4: Não xingarei no twitter, mas esperem um textão no próximo post.
Ps5: Antes que esqueça, deixem comentários, vamos discutir as visões de cada um.


Representatividade nos Jogos Digitais: as minorias gritam por atenção!


Antes de começar essa discussão informo a todos que me acompanham que propus fazer uma sequência de temas necessários ao meio, mas a cada semana com muitas novidades, existem algumas precisam ser discutidas no calor do momento. Sendo assim abordarei os temas já levantados em futuros próximos e deixarei junto o link do artigo anterior para não ficarem perdidos. Dito isso vamos ao grande destaque da última semana: Brasil Game Show.

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Segundo o site da Brasil Game Show a Feira é o local escolhido para a realização de mais de 80% dos anúncios e lançamentos da América Latina. Além disso, conta com presença das principais empresas do segmento de games. Em 2015, o evento contou com a presença de cerca de 180 marcas, que tiveram a oportunidade de atingir e interagir com as 300.138 pessoas que circularam pela feira.

Nesse ano não foi diferente. Com grandes lançamentos e em um novo local a feira foi sinônimo de sucesso tanto para o público como para produtores. Dentre os produtores destaco os indies que superaram as expectativas tanto em qualidade como em quantidade. Em três dias de evento conversando e jogando observei um aumento significativo na qualidade em relação ao último ano; mecânicas diferentes, gráficos trabalhados, histórias desenvolvidas.

Por outro lado os problemas persistem: equipes despreparadas para vender seu produto, jogos muito bonitos, mas pouco criativos; histórias clichês e o mais interessante para nós que estamos começando nossa aventura nesse meio: minorias gritando por atenção. E quem são essas minorias? Vamos aos números.

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“Os homossexuais representam 18 milhões de pessoas no Brasil, com um potencial de consumo de mais de R$ 150 bilhões por ano, de acordo com a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat-GLS).”(fonte)

Diante da sociedade, deficientes e familiares atravessam obstáculos

 

 

“Dados do IBGE revelam que 6,2% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) considerou quatro tipos de deficiências: auditiva, visual, física e intelectual. “ (fonte)

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Segundo o IBGE, os negros (pretos e pardos) eram a maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população. Os brasileiros que se declaravam brancos eram 45,5%. (fonte)

 

 

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“A atual população indígena brasileira, segundo dados do Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, é de 896,9 mil indígenas.“ (fonte)

 

 

Olhando esses dados não é necessário dizer muito não é mesmo? 18 milhões de possíveis jogadores que não se sentem representados por não possuírem a mesma orientação sexual que a maioria da sociedade. 6,2% de possíveis jogadores de uma população de mais de 204 milhões de brasileiros que sofrem com a falta de acessibilidade aos jogos nas mais diversas plataformas. E por aí vai!

Mas lembre-se que isso é uma PEQUENA PARTE de um grupo composto por diversas minorias que não se encaixam ao padrão cultural imposto, mas trabalham e possuem renda para gastar com algo que traduzam um pouco de sua história. É hora de ser menos preconceituoso, conhecer novos públicos, explorar novas culturas e produzir material para quem busca ao menos existir em uma sociedade injusta e desigual, mesmo que tudo comece em um ambiente imaginário e virtual. Concordam? Acreditam em públicos em potencial? Vamos discutir :]


Virei Game Designer, e agora? Por onde começo?


Para aqueles que ainda não viram em meu último artigo iniciei uma sequência contando a minha visão sobre a realidade de quem forma-se em Design de Jogos no país e o real valor de um diploma na área. O objetivo é trazer o que acredito serem as melhores escolhas na construção de uma carreia nesse mercado valioso e disputado, e claro, discutirmos o assunto.  A cada quinze dias continuaremos essa discussão e em paralelo uma nova ideia surgiu. Fui selecionado em uma vaga de emprego e NOW I’M A GAME DESIGNER BITC#&$!

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Já pensaram em acompanhar um recém-formado cheio de teorias para testar em um mercado disputado e milionário? Achei a ideia muito interessante e gostaria de compartilhar com vocês meus erros, acertos, dúvidas, e tudo que vier (quase tudo) durante todo o processo de lançamento de um jogo.

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Para os que não conhecem, faço parte da equipe acelerada pela Playbor, uma aceleradora de jogos digitais brasileira, a primeira da América Latina. Nascida pelos amigos Marcelo Rodrigues, Gustavo Horta e João Guilherme Paiva, o objetivo da empresa é fomentar a indústria de jogos local. A equipe participou do programa Lemonade, o maior programa de pré-aceleração de startups do Brasil. Com uma proposta certeira e a uma equipe sagaz, garantiram uma vaga entre as sete startups premiadas no Demoday. Atualmente a Playbor está trabalhando em sua aceleração piloto, que conta com os seguintes jogos: Kiatto – The Legendary Hero, jogo para a plataforma PC em desenvolvimento por ex-alunos do curso de Jogos Digitais da Universidade FUMEC; e The Last War, jogo para a plataforma PC em desenvolvimento pelo estúdio WolfB.

E onde eu entro nessa? Se os projetos estão em desenvolvimento porque precisam de um Game Designer? O que você desenvolve em um projeto já pré-definido? Faz diferença na equipe?

game-designer-marketing-games-Shigeru-Miyamoto-e-MarioAntes de mais nada, vamos por partes: o que é um Game Designer? É o cara que programa o jogo? É o artista do jogo? Não, o GD em linhas gerais é o projetista do game, ele é quem pensa nos desafios, na história, é a mente por trás de tudo que o jogador vive enquanto joga. Exemplo clássico, Shigeru Miyamoto!

 

Shigeru Miyamoto é um designer e produtor de jogos eletrônicos japonês. Ele é mais conhecido pela criação de algumas das mais bem-sucedidas franquias de jogos eletrônicos, como Mario, Donkey Kong, The Legend of Zelda, entre outros. (Wikipedia, 2016)

Qual a sua função em um projeto já existente?

Para responder essa pergunta vamos a uma história bem curta: uma mãe tem um filho, ela faz seu café, leva-o para escola, alimenta, dá amor, xinga, incentiva a fazer novas atividades e mostra novos caminhos; quando criamos um jogo ocorre o mesmo. Um jogo é um organismo vivo, ele existe para as pessoas ali vivenciam as mais diversas experiências. Como projetistas de jogos, independente de ser uma ideia vinda de você ou não, assumimos o papel dos pais. Buscamos manter nossos “filhos” sempre atualizados, queremos que eles sejam divertidos, que todos busquem por ele e sempre se divirtam ao máximo.

Eu sou um Game Designer? Como sei? Existe perfil?

NÃO, antes de tudo vamos desmistificar alguns pontos. Game Designer não é o cara que joga uma infinidade de jogos, não é o cara que joga toda a Steam ou todos os consoles. Ser GD é uma fusão de várias áreas, é ter uma percepção diferenciada enquanto vive uma experiência, é tentar descobrir o que motiva uma pessoa gastar seu tempo game-designer-marketing-gamesvivendo uma aventura “sem pé e sem cabeça”. Sem dúvidas, quanto mais referências e mais experiências melhor, porém a todo o momento somos expostos a uma infinidade delas (jogos ou não) e você ser capaz de percebê-las e transportá-las para outro universo, é muito mais valioso do que jogar 5000 horas em jogos. No entanto, destaco alguns pontos como necessários para atuar na função: ser metódico e organizado, possuir boa comunicação verbal e escrita, gostar de aprender e aceitar a opinião dos outros.

Ter um Game Designer na equipe faz diferença?

Sim, faz toda a diferença. Quando estamos na graduação, por falta de experiência e hábito tendemos a partir para o desenvolvimento sem organizar as ideias. Na hora de programar e criar personagens não temos uma base sólida, existem “buracos” que geram dúvidas até mesmo para a própria equipe. E isso tudo no fim reflete durante todo o processo. Sem delimitar o escopo, sem alguém para dizer até onde o trabalho foi proposto, temos um grupo perdido trabalhando em pontos desnecessários que posteriormente serão descartados gerando retrabalho. Por isso a importância em alguém que centralize, organize e distribua as informações. E não esqueçam que: organizar dá muito trabalho!!

Ficamos por aqui. Espero opiniões sobre essa ideia, gostariam de acompanhar minha jornada? Sugestões, críticas? Vamos juntos?!